2 de mar. de 2010

Avatar Ecológico Chines

As impressões ecológicas de um verde-amarelo vivendo no país vermelho

Trabalhando há 2 meses na China, me sinto com bagagem suficiente para fazer uma análise crítica de como a China, principalmente as grandes cidades de Beijing e Xangai, trabalham a preservação e/ou melhoria do meio ambiente.

1. Impermeabilização

Ambas as cidades apresentam uma enorme impermeabilização do solo. Não se vê terra crua, exceto nos terrenos de construções. Os parques e áreas verdes são muito poucos, e quase inóspitos. O People’s Park - no coração de Xangai - não passa de uma praça cimentada com árvores e flores em vasos de cimentos e plástico. Até a base das árvores de calçada são impermeabilizados com cimento, plástico ou o que tiver por perto.

2. Poluição dos Rios

Xangai é muito famosa pelas mega construções e desenvolvimento econômico nas últimas décadas, mas não podemos esquecer do principal rio “Huangpu” que corta a cidade de oeste a leste, desembocando no Pacífico. É lamentável ver a quantidade de lixo no grande rio e sua água cinza não esconde que o “Importante Rio” não hospeda mais peixes e vida. A poucos metros do estuário do Huangpu, o Pacífico também recebe o maior porto do mundo, sinônimo de sujeira nas águas salgadas.

3. Poluição do Ar

Xangai também é conhecida pela famosa “Smog”, uma neblina pesada que combina poluição do ar com poeira de construção. Durante o dia o céu é cinza e a noite alaranjado – reflexo das luzes dos prédios e shoppings que acendem Xangai a noite toda. A poeira é tanto que se acumula até dentro de casa, e estrelas no céu são tão raras como o azul do céu

4. Fauna Urbana

Em um ambiente pesado e pobre em recursos, a existência de animais e insetos é raríssima. Moro há dois meses no oriente e os únicos animais que vi nas ruas foram uma barata e alguns Pardais. Os animais e insetos fogem de onde os humanos loucamente procuram seu espaço – a natureza não se engana.

5. Oxigenação

Se o ambiente é cinza e praticamente morto, o inverno maximiza a destruição da vida. Árvores sem folhas e lagos e rios congelados com certeza não dão conta de produzir o oxigênio que as 37,2 milhões de pessoas e suas máquinas consomem nas cidades de Beijing e Xangai – Um défict ambiental que não tem preço.

6. Consciência Ecológica

Quando perguntado a um estudante universitário chinês sobre o que é natureza e sua importância para as cidades, a resposta veio acompanhada de que natureza é sinônimo de Selva Africana ou Amazônia e que o bonito são as construções e luzes – que demonstram riqueza e desenvolvimento, enquanto a natureza deve ser preservada fora dos centros urbanos. Ou seja: quanto mais bonito, melhor...

7. Prosperidade Ecológica

Os governos das cidades de Beijing e principalmente Xangai não são totalmente omissivos. Transporte público como metrô e ônibus são excelentes e utlizados por pobres e ricos. Existem mais taxis que carros particulares, e as milhões de motos são movidas a energia elétrica, uma vantagem na emissão de CO2 que o Brasil está longe de conseguir.

A preocupação também está evidente no Museu de Planejamento Urbano de Xangai. Há um plano de revitalização da cidade chamado “Green Shanghai” que visa melhoria em todos os aspectos citados neste texto. O governo visa ampliar a área verde per capita que foi do tamanho de uma sola de sapato em 1960, que hoje está do tamanho de uma cama de solteiro, para “incríveis” tamanho de um quarto, em 2020.

Não se duvida do poder de transformação dos chinês, que tanto fez e continua fazendo pela economia e construção de uma noção incrivelmente forte e consolidada; mas até que ponto o meio-ambiente será reconstruido por aquele que o destruiu: o dinheiro?


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